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Entrevista com Nuno Bernardo: Liderança e Inovação

Data
23 de Janeiro, 2025

Nuno Bernardo aborda liderança, inovação e a importância da aprendizagem contínua na construção de organizações de sucesso.

Nuno Bernardo, Chief Marketing Officer do Super Bock Group, desempenhou um papel central na consolidação de uma das marcas mais icónicas de Portugal. Reconhecido pela sua liderança em marketing e sustentabilidade, Nuno Bernardo alia uma experiência global a uma paixão pelo desenvolvimento de talento. Nesta entrevista, partilha momentos marcantes do seu percurso, a sua abordagem à eficácia organizacional e o seu papel enquanto professor no Executive MBA da Porto Business School.

Pode contar-nos um pouco sobre o seu percurso e como começou a lecionar no Executive MBA da Porto Business School?

NB – Quando terminei a universidade – Licenciatura em Gestão na FEP, Universidade do Porto – iniciei quase de imediato a minha carreira internacional na Procter & Gamble. Durante 16 anos, vivi em vários países da Europa, África e Ásia. Como parte do meu crescimento enquanto líder, aprendi rapidamente o valor de desenvolver outras pessoas e tive a oportunidade de formar talentos e liderar equipas em países como a Hungria, o Quénia e a China.
Em 2015, quando entrei no conselho executivo do Super Bock Group, fui convidado a dar uma palestra sobre marketing aos alunos do MBA da Porto Business School. O diretor do programa na altura assistiu à sessão e, pelo que percebi, gostou da forma como interagi com os alunos. Alguns dias depois, contactou-me para me informar de uma vaga para professor de Organizational Effectiveness.
O que ele não sabia era que “Construir Organizações” é uma das minhas maiores paixões e também uma das competências que mais desenvolvi ao longo dos anos. Não consegui dizer que não. Preparar a estrutura e o conteúdo da disciplina foi intenso, mas, desde o primeiro ano, descobri que é algo incrivelmente gratificante.

O que considera mais recompensador ao lecionar no Executive MBA?

NB – Começo as minhas aulas com uma discussão sobre a ideia de construir organizações, focando na gestão de talento, no design organizacional e na cultura – para além do habitual foco na construção do negócio. Embora todos reconheçamos a importância de investir na organização para alcançar o sucesso a médio e longo prazo, muitos profissionais dedicam apenas uma pequena parte do seu tempo a esta área, concentrando-se na gestão dos problemas do dia a dia.
O que me dá mais satisfação ao lecionar é assistir à transformação dos alunos à medida que avançamos pelos diferentes módulos. Através de frameworks, casos reais e discussões dinâmicas em sala de aula, vejo-os a mudar o foco para o impacto estratégico da organização.
Costumo dizer que aprendo mais com os alunos do que eles comigo, porque ganho muito com as perspetivas de cada um dos 50–60 participantes. O envolvimento é enorme, e isso enriquece imenso a experiência. Ao longo dos anos, criei ligações muito fortes com muitos alunos, e é sempre gratificante vê-los a crescer e a progredir nas suas carreiras.

Que conselho daria aos alunos do Executive MBA que procuram evoluir nas suas carreiras?

NB – Quando se trata de decisões de carreira, há dois critérios que considero essenciais: (1) a paixão pelo desafio – porque isso garante que vamos dar o nosso melhor – e (2) as oportunidades de aprendizagem – porque são elas que nos preparam para desafios maiores no futuro.
Além disso, gosto de lançar algumas questões provocadoras a quem está a considerar um próximo passo na sua carreira:

I. Quais são os seus critérios para a próxima mudança, e qual a sua ordem de prioridade? É o dinheiro? O estatuto? Aprendizagem? Mudar para o estrangeiro? Explorar uma nova indústria? Equilibrar a vida pessoal e profissional? Muitas vezes, as pessoas têm ideias sobre o que procuram, mas raramente as estruturam ou priorizam. No início da minha carreira, um General Manager da Procter & Gamble deu-me este conselho, e tem sido muito valioso ao longo dos anos.
II. Está realmente preparado para dar o passo? Mudar de carreira envolve riscos e mudanças. Muitas vezes, sabemos exatamente o que vamos perder, mas não temos a mesma clareza sobre o que vamos ganhar. Por exemplo, já começou a construir a sua rede de contactos antes de precisar dela? A sua família está alinhada com a ideia de uma mudança mais ousada, como mudar de país?
III. Que talentos únicos traz consigo? Muitas pessoas sabem apresentar o que fizeram – o que consta no currículo – mas têm dificuldade em identificar os seus talentos únicos e os que são transferíveis para outras funções, indústrias ou empresas. Saber o que nos distingue é fundamental.

Na sua opinião, qual é o papel da aprendizagem contínua e da educação executiva, como os programas de Executive MBA, para os estudantes?

NB – Um dos meus maiores receios é deixar de aprender. Construí a minha carreira – e, de certa forma, a minha vida – desafiando-me e superando limites em diferentes funções e contextos culturais. Para mim, aprendizagem e adaptação são fundamentais.
A educação executiva tem um papel essencial, particularmente em três áreas: i. Aprendizagem académica; ii. Construção de uma rede de contactos; iii. Desenvolvimento do autoconhecimento.
Os dois últimos fatores são, muitas vezes, subestimados. Muitos alunos só percebem a sua relevância depois de terminarem o MBA, e ficam surpreendidos com a profundidade das conexões e o crescimento pessoal que alcançam.
Recentemente, a minha empresa deu-me a oportunidade de frequentar o Advanced Management Program (AMP) no INSEAD. Mesmo com a minha experiência, o programa foi transformador – tanto a nível pessoal como profissional. O que mais me marcou? Um maior autoconhecimento e o incrível grupo de colegas que conheci e com quem acredito que manterei contacto para o resto da vida.
A educação executiva é uma oportunidade extraordinária para os líderes. Temos o privilégio de contar com uma escola de negócios tão forte no Porto, com uma liderança renovada que está a tomar os passos certos para levar a Porto Business School a um novo patamar.

Entrevista com Nuno Bernardo