Várias tendências globais estão a afetar os fatores que influenciam a procura e oferta no sector imobiliário. Novos ativos estão a surgir, enquanto outros estão a ficar obsoletos e a ser descartados do conjunto de oportunidades de investimento. Tecnologia, alterações climáticas, demografia, políticas para a habitação acessível, globalização, tudo isso continuará a ter impacto nos mercados imobiliários. O impacto será diferente, de país para país, e de região para região, e essas forças globais interagirão, levando os intervenientes do mercado imobiliário a avaliar quais delas os afetam mais e de que forma.Vejamos, por exemplo, a demografia. Países como Portugal têm de lidar com uma população envelhecida e em declínio. O que é que isso significa para o negócio imobiliário? Será que a abordagem certa é investir em infraestruturas de saúde, como residências seniores, e no segmento hoteleiro e de lazer, e afastar-se do imobiliário residencial e comercial?Também a tecnologia tem sido um fator determinante e acarretado mudanças significativas no setor. Como é que a transição digital tem afetado a procura e a oferta no imobiliário? Há mais de uma década, as plataformas eletrónicas têm vindo a facilitar as compras online, atingindo significativamente a procura por espaço comercial, ao mesmo tempo que impulsionaram um crescimento significativo do segmento de logística. Esta tendência tenderá a agravar-se para o retalho? O dinamismo do segmento industrial e de logística irá continuar? E como irão as preferências das gerações mais jovens e o teletrabalho, no modelo híbrido, afectar os centros comerciais, o comércio de rua e os escritórios?Por outro lado, a tecnologia tem influenciado positivamente a operação e a forma como os mercados funcionam. Big data, capacidade de computação, IA e Machine Learning, DLT e blockchain, todos eles estão a moldar os mercados imobiliários, com novas ferramentas e novos players, que empreendem o aumento da produtividade, criando novas oportunidades de investimento e facilitando as transações nos mercados imobiliários. Exemplos notáveis são os portais de compra e venda online, os Automated Valuation Models e as aplicações de Smart Real Estate, nomeadamente na gestão de edifícios.Os intervenientes do mercado imobiliário também estão a adaptar-se às alterações climáticas, com estratégias de mitigação e adaptação para gerir os riscos climáticos. Sendo a capacidade de manter e aumentar os rendimentos, o principal driver do valor de ativos imobiliários, os promotores precisam de adotar soluções que os ajudem a mitigar riscos de transição climática – focando-se não só na redução do impacto de carbono dos seus edifícios, mas genericamente em práticas de construção sustentável – e de se adaptar aos riscos físicos, investindo em ativos resilientes.É difícil prever qual será o impacto dos avanços tecnológicos, das alterações climáticas, da demografia, e das políticas sociais e mudanças regulatórias nos mercados imobiliários comerciais e residenciais. Mas os intervenientes do mercado imobiliário devem tentar compreender os riscos e oportunidades que estas forças de mudança acarretam, e como afetarão a forma como as pessoas ocupam o espaço – a sua procura por escritórios, retalho e residencial – bem como as dinâmicas do lado dos investidores.Em 2003, iniciámos uma jornada singular ao lançar o primeiro programa de Pós-graduação em Gestão Imobiliária. A dimensão e natureza do setor imobiliário mudaram muito nos últimos 20 anos. Desde então, ocorreram crises económicas e financeiras, e grandes mudanças na forma como as pessoas trabalham, vivem e compram.Acreditamos que os nossos 348 graduados das já 17 edições do programa realizadas beneficiaram das lições sobre a teoria e prática da gestão no setor imobiliário e que assim se prepararam para promover a mudança nas suas organizações com vista a antecipar e lidar com os muitos desafios que surgiram. Contribuíram definitivamente para a profissionalização do setor.Continuaremos juntos nesta jornada de aprendizagem contínua, propiciando aos novos participantes do programa uma formação integrada e relevante nas áreas da gestão, aplicada ao negócio imobiliário, que contribuirá para o avanço do seu percurso profissional.Artigo de Ana Paula Serra, codiretora da Pós-Graduação em Gestão Imobiliária.