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O que esperar do comércio internacional no pós-pandemia?

Data
29 de Setembro, 2021

Em 2020 a crise da pandemia da Covid-19, pela sua dimensão, duração, ritmo da infeção e medidas restritivas adotadas, revelou-se um desafio e uma oportunidade para o comércio internacional.Após uma série de alterações, entre as quais, novos modelos de trabalho e formas de comunicação e entretenimento, passando pelas compras online, nem a nossa vida nem o comércio internacional voltarão a ser os mesmos. Um ano tão atípico como 2020 trouxe-nos mudanças, às quais tivemos de nos adaptar. Registou-se uma diminuição de mais de 90% da oferta de transporte aéreo e o aumento dos fretes de transporte internacional e do preço dos contentores.Vivemos tempos de insegurança e incerteza que conduziram as empresas a um processo de adaptação a um novo paradigma, abrindo horizontes para novas formas de evolução. Ana Teresa Lehmann, Diretora do Executive Master em International Business e Especialista em Comércio Internacional, participou no MBA Networking Event promovido pela Porto Business School e pelo IESIDE Business Institute no dia 24 de setembro, onde falou sobre o rumo, os desafios e oportunidades do comércio internacional num mundo cada vez mais digital.Ana Teresa Lehmann apresentou quatro grandes tendências-chave que vão continuar a impactar o rumo do comércio internacional perante a transformação digital à qual ainda nos estamos a ajustar.1. GeopolíticaO aumento da relevância das economias emergentes, a ascensão de políticas comerciais e de investimento protecionistas e, ainda, questões relacionadas com a segurança nacional e soberania impactam o comércio internacional.Um fator de peso no rumo do comércio internacional recai nas mudanças de poder nos domínios económico e tecnológico. A infraestrutura oceânica dos conectores de internet, considerada crítica, é propriedade dos gigantes tecnológicos, como a Google. As fronteiras territoriais estão a perder relevância. Grande parte dos centros de dados de grande escala está localizada nos Estados Unidos. Compreendemos, assim, que não coexistimos num conflito tradicional, mas sim, num conflito tecnológico.O conceito de geopolítica tradicional, no qual os Estados centralizam o controlo e poder de decisão já não é suficiente, pois o digital traz um novo tipo de espaço económico e um novo tipo de mercado. E com o surgimento de novos agentes privados, a extraterritorialidade ganha terreno, definindo modelos de negócio.2. De-GlobalizaçãoA globalização, caracterizada por fluxos crescentes de comércio, investimento, movimentação de talentos e intercâmbio cultural, foi conquistando cada vez mais relevância até à Crise Financeira Global, em 2007. Neste contexto de globalização de produção e inovação, as economias emergentes conquistaram uma relevância crescente.No cenário pós crise financeira global tem-se verificado uma desaceleração da integração da economia global. O comércio e o investimento têm crescido a um ritmo mais lento. Além disso, novos conflitos comerciais entre potências e questões críticas, como a sustentabilidade e as alterações climáticas têm sido, e continuarão a ser, grandes desafios para o comércio internacional.3. SustentabilidadeNos últimos anos temos assistido a uma trajetória vertiginosa de degradação ambiental e esgotamento de recursos consequentes da ação humana. “Enquanto civilização fomos demasiado longe”, destacou Ana Teresa Lehmann.A vivência da pandemia Covid-19 e o receio de futuras pandemias conduziu a uma crescente consciencialização sobre a necessidade de mudar os nossos comportamentos, nomeadamente padrões de produção e consumo mais sustentáveis. “Num cenário de pandemia necessitamos de reforçar a cooperação”, afirmou.A Indústria 4.0, orientada para a otimização dos recursos e para a economia circular, e o novo paradigma tecno-económico oferecem uma oportunidade para potenciar a sustentabilidade.As circunstâncias fomentadas pela pandemia exigem modelos e estratégias de negócios distintos e mais sustentáveis  integrados numa visão holística (económica, social e ambiental). Por exemplo, é importante adotar mais cadeias de abastecimentos regionais em detrimento de cadeias de abastecimentos a longa distância, mitigando os riscos de interrupção do fornecimento e o impacto ambiental. A Covid-19 veio acelerar estas dinâmicas.A pandemia surgiu numa época de transformações significativas para a economia global: tecno-económicas (digitalização); geopolíticas (retração na intensidade da globalização); e sociais (consciência do imperativo da sustentabilidade). Veio expor as fraquezas estruturais de países e empresas e a necessidade de cadeias de valor mais resilientes e próximas.4. Inovação contemporâneaHoje em dia a inovação é um fenómeno complexo, que converge diferentes stakeholders, tecnologias e tipos de conhecimento. Vivemos uma era de Inovação Aberta (Chesbrough, 2003) e Inovação do Utilizador, cada vez mais democrática (von Hippel, 1986, 2005).Ninguém inova sozinho. São necessárias abordagens colaborativas e uma visão dos ecossistemas, que inclua a contribuição de uma nova geração de consumidores.Este “Novo Consumidor” é vital no processo de inovação, pois pretende não só ser utilizador do bem ou serviço, mas também cocriador, e até coprodutor e co-distribuidor. Esse processo de inovação mais interativo, com um consumidor cada vez mais exigente, aumenta a necessidade de ter operações mais ágeis e mais próximas do utilizador.Para onde caminha o comércio internacional num cenário pós-pandemia? Prevê-se, por exemplo, que o investimento na aceleração da digitalização continue e que o trabalho remoto e o e-commerce continuem a fazer parte do presente e futuro.

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  • COMÉRCIO INTERNACIONAL