No trabalho diário que fazemos junto das empresas ouvimos recorrentemente que para medir o sucesso organizacional já não basta olhar para resultados. A busca pela excelência leva-nos, felizmente, a trabalhar todas as dimensões da empresa e a olhar para cada colaborador como um elemento essencial para o sucesso da organização.
Estou certa de que chegaremos ao momento em que será possível olharmos para a individualidade de cada um e exponenciar esse potencial. Até lá, cabe-nos, a nós enquanto business school, fornecer informação fundamentada sobre o que se vive na realidade empresarial e acelerar todos os passos em direção a este caminho.
O gender gap representa um dos grandes desafios da sociedade atual e impacta diretamente a força de trabalho. Falamos de desigualdades sistemáticas de oportunidades, acesso a recursos e remuneração, condições do meio académico ao empresarial e repercussões inerentes no seio familiar.
Não se trata apenas de uma questão de equidade social, mas sim uma premissa para o sucesso sustentável das organizações. Ao explorarmos o papel das business schools na mitigação do gender gap, é imperativo compreendermos as nuances e complexidades dessa disparidade.
Vou mostrar alguns números que evidenciam os desafios enfrentados pelas mulheres no mundo profissional, delineando estratégias eficazes para promover a igualdade de género no âmbito educacional e empresarial.
A população residente em Portugal é maioritariamente composta por mulheres: apesar de nascerem mais homens, estes apresentam uma taxa de mortalidade maior, enquanto as mulheres apresentam uma maior esperança média de vida à nascença. Temos mais mulheres a terminar o ensino superior e com um rendimento escolar superior. Escolhem áreas de formação como a saúde e proteção social, ciências empresariais, administração e direito em detrimento das STEM (1), levando-as a exercer funções em setores menos bem remunerados.
Em média, as mulheres auferem menos 16% de remuneração base mensal e este valor aumenta consideravelmente à medida que subimos na hierarquia da análise.
Além disso, a taxa de desemprego e de inatividade é superior nas mulheres, estando inerente a estas situações o papel de cuidadoras informais (o que as conduz também a serem o género que mais trabalha em part-time). Temos menos representação feminina em cargos de chefia, liderança e tomada de decisão, quer a nível económico, quer a nível político.
Efetivamente o mercado de trabalho continua marcado por desigualdades estruturais entre mulheres e homens, que impedem uma participação igualitária, mas estamos melhor que ontem e pior do que amanhã, seguramente.
Segundo o Global Gender Gap Index 2023, Portugal ocupa a posição 32 (ocupando a posição 18 na Europa), apresentando um score de 0,765 (0-1).
O que podem as empresas e as business schools fazer para acelerar este processo? Há várias ações concretas e simples de materializar que vou listar para ser mais fácil copiarem:
• • Dinamizar eventos de networking e mentoring que conectem alunos e profissionais experientes;
• Desenvolver programas de formação em cocriação que respondam a lacunas específicas;
• Implementar métricas para monitorizar o progresso em relação à temática nos programas destinados ao efeito;
• Elaborar relatórios regulares sobre o desempenho e as iniciativas relacionadas com o tema;
• Incluir transversalmente temas como “diversidade e inclusão” em todos os programas de formação;
• Servir de exemplo, colocando mais mulheres a lecionar e a inspirar os nossos alunos;
• Promover e divulgar eventos que destaquem mulheres empreendedoras e líderes de sucesso;
• Dinamizar sessões sobre o tema nas escolas básicas e secundárias;
• Dar visibilidade a empresas parceiras que fazem um trabalho notório diariamente nestas áreas;
• Partilhar experiências de business schools que implementaram com sucesso iniciativas para diminuir o gender gap;
• Promover e divulgar eventos, conferências e workshops assim como campanhas de consciencialização sobre a importância da igualdade de género;
• Consciencializar as empresas dos benefícios de ter uma força de trabalho diversificada, do impacto positivo na inovação, resolução de problemas e tomada de decisões assim como a contribuição para a reputação e imagem da empresa.
Há já vários aspetos que nos orgulham no caminho que estamos a fazer lado a lado com os nossos clientes, parceiros e alunos, no desenvolvimento de programas que promovem a liderança feminina, na inclusão de temas como diversidade e inclusão nas nossas formações, na criação de bolsas para aumentar a participação feminina nos programas de MBA e de Pós-Graduação e até na criação do clube Women in Business (WiB) pelas nossas Alumni.
A título de exemplo, em resposta à aspiração da Mota-Engil de até 2026, 30% dos quadros técnicos sejam ocupados por mulheres, desenhamos um programa, em cocriação, para jovens mulheres com foco no desenvolvimento de competências de liderança, gestão e de adaptabilidade àquele que será o futuro corporativo da Mota-Engil.
Abrangendo múltiplas temáticas da área da gestão e liderança e visando capacitar mulheres para assumirem cargos de chefia no médio-prazo, este programa está muito em linha com o trabalho e as iniciativas que a Porto Business School tem vindo a desenvolver ao nível da igualdade de género.
O gender gap em Portugal apresenta uma tendência decrescente, embora ténue. Este é o repto que lançamos a quem está a ler este artigo, desafiem-nos e vejam na Porto Business School um espaço para assumir a liderança na construção de um futuro mais inclusivo, a este e a todos os níveis.
Artigo de Magali Gomes, Consultant da área de Corporate Solutions da Porto Business School.
(1) ciências, tecnologia, engenharia e matemática
Fontes: Global Gender Gap Report 2023 World Economic Forum; Igualdade de Género em Portugal: Boletim Estatístico 2022 da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género